Entre Abraços e Lembranças: Angélica Revela o Cansaço da Alma na Jornada de Quem Cuida do Passado e do Presente

Angélica Ksyvickis

Em uma sala onde fotos de família enchem as paredes — imagens de filhos pequenos sorridentes e pais idosos em momentos de lucidez —, Angélica divide seu tempo entre ligações para médicos, reuniões escolares e noites em claro. A apresentadora, cujo sorriso fácil conquistou gerações diante das câmeras, abre pela primeira vez o coração sobre um drama que vai além dos holofotes: a sobrecarga emocional de cuidar, simultaneamente, dos pais envelhecidos e dos filhos em fase de crescimento. Em um relato cru, ela desvela as camadas invisíveis de uma rotina que mistura amor, culpa e exaustão.

A Dupla Jornada do Amor
“É como estar sempre com um pé em dois mundos: um que pede colo e outro que precisa de apoio para não cair”, confessa Angélica, em entrevista emocionada. Seus dias começam antes do amanhecer, preparando lanches escolares enquanto verifica a medicação dos pais. Às vezes, durante uma reunião de trabalho, recebe mensagens urgentes: de um lado, a escola avisa sobre febre do caçula; de outro, a cuidadora relata que o pai, com Alzheimer, esqueceu seu nome novamente. “Não há manual que ensine a dividir seu coração sem que ele se parta”, desabafa.

A situação de Angélica reflete uma realidade silenciosa que atinge milhares de brasileiros, especialmente mulheres, pressionadas pela dupla responsabilidade de zelar por filhos e pais idosos. Estima-se que, em lares urbanos, uma em cada quatro mulheres de meia-idade enfrente esse “sanduíche geracional”. A diferença é que, para muitas, não há assistentes ou recursos financeiros para amenizar o peso.

O Preço Invisível da Dedicação
O cansaço, porém, não é apenas físico. Angélica descreve uma “neblina emocional” que a acompanha: a culpa por não estar totalmente presente em nenhum dos papéis, o medo de negligenciar alguém que ama, a tristeza de ver os pais perderem autonomia. “Tem dias em que me pego chorando no banho, não por fraqueza, mas por sentir que o tempo está me engolindo”, revela.

A saúde mental entra em risco. Terapeutas alertam para a síndrome do cuidador, marcada por ansiedade, insônia e isolamento social — quadro que a apresentadora reconhece já ter enfrentado. “Cheguei a cancelar projetos profissionais porque não conseguia me concentrar. Achava que seria egoísmo priorizar minha carreira”, conta. A reconciliação veio com a aceitação de que “cuidar de si não é um luxo, mas uma necessidade”.

Fios de Esperança: Como Encontrar Equilíbrio?
Angélica não se rende ao desespero. Para navegar pela tempestade, criou estratégias: divide tarefas com irmãos, contratou cuidadores especializados para os pais e estabeleceu “horários sagrados” com os filhos — como jantares sem celulares. “Aprendi que delegar não é falhar, mas garantir que todos recebam o melhor de mim”, explica.

Ela também encontrou refúgio em grupos de apoio online, onde compartilha dúvidas e ouve histórias semelhantes. “Descobri que não estou sozinha. Há mulheres incríveis reinventando a forma de amar, mesmo quando o corpo pede repouso”, diz.

Um Debate Urgente: A Sociedade Precisa Enxergar
Enquanto Angélica fala, surge uma crítica velada: a falta de políticas públicas e reconhecimento social para cuidadores familiares. “Falamos tanto em envelhecimento populacional, mas onde estão os suportes para quem segura essa ponta?”, questiona. Ela defende licenças específicas para funcionários com parentes dependentes, além de campanhas que desromantizem o sacrifício extremo. “Cuidar é um ato de amor, mas ninguém deveria ser obrigado a desmoronar para provar esse amor”, enfatiza.

A Lição que Fica: Amor sem Martírio
Ao final da conversa, Angécula sorri ao lembrar de um momento recente: seu filho mais velho, de 12 anos, surpreendeu-a desenhando um coração com os avós e ela unidos pelas mãos. “Ele escreveu: ‘Minha mãe é uma cola que não deixa a gente se quebrar’. Percebi que, mesmo imperfeita, estou fazendo algo certo”, reflete.

Sua história não é sobre heroísmo, mas resiliência. Um lembrete de que, nas dobras do cansaço, ainda há espaço para a graça — e de que a verdadeira força está em admitir fraquezas. Enquanto a sociedade não acordar para o peso dos cuidadores invisíveis, relatos como o de Angélica ecoarão como um apelo: é tempo de transformar o amor em apoio concreto, não em silêncio solitário.