Enfermagem produz receitas, riquezas e valores essenciais à economia do Brasil

 

Valores investidos na maior força de trabalho da saúde se convertem em vetor de desenvolvimento econômico e previdenciário importante para o futuro do país

Por: Mateus Gonçalves

 

O Piso Nacional da Enfermagem, recentemente regulamentado pela Lei 14.434/2022, não é apenas uma questão salarial. Ele representa uma mudança histórica e urgente para a maior categoria profissional do setor de saúde no Brasil. Estamos falando de um grupo que foi linha de frente na pandemia, combate epidemias como a dengue e lida diariamente com a vida e a morte, mas que, até pouco tempo, sobrevivia com salários próximos ao mínimo.

A implementação do piso tem um impacto profundo, não só para esses trabalhadores, mas para a economia e o sistema previdenciário brasileiro. O que se discute não é apenas a valorização imediata dos profissionais de enfermagem, mas o que essa política representa para o futuro da previdência, especialmente nos próximos 50 anos.

O Ministério da Saúde estima que o investimento necessário para implantar o piso nos estados, municípios e entidades suplementares — que atendem 60% dos pacientes do SUS — foi de apenas R$ 7 bilhões em 2023 e será de R$ 10 bilhões em 2024. Esses números são pequenos quando comparados ao impacto positivo na vida de milhões de trabalhadores e no fortalecimento do sistema previdenciário. Segundo o Dieese, o piso garantirá um incremento de R$ 7,8 bilhões anuais na arrecadação previdenciária, proporcionando aposentadorias mais dignas e melhorando a qualidade de vida desses profissionais no futuro.

Mas se os números são favoráveis, por que tanto alarde? Infelizmente, há uma resistência das forças de mercado e de setores políticos conservadores, que alegam que a valorização desses profissionais pode levar ao colapso financeiro dos hospitais e causar demissões em massa. Contudo, esse argumento ignora a capacidade econômica do setor de saúde no Brasil. Em 2023, o orçamento público para saúde foi de R$ 463 bilhões, e o setor privado movimentou R$ 542 bilhões. Isso representa 9,5% do PIB brasileiro, uma porcentagem ainda inferior à média de 11,5% registrada entre os países da OCDE.

A verdade é que, se o Brasil deseja se tornar uma nação desenvolvida de fato, deve investir mais em saúde — especialmente nas pessoas que mantêm esse sistema funcionando. A destinação de apenas 2% a mais do PIB para o setor resolveria de forma perene os desafios de remuneração e, em consequência, garantiria aposentadorias justas para aqueles que dedicam suas vidas ao cuidado da população.

Não podemos continuar aceitando que profissionais que salvam vidas hoje, enfrentem a miséria amanhã. Se queremos um país sustentável, devemos começar garantindo dignidade no presente, tanto para os profissionais de enfermagem em atividade quanto para os aposentados. Esse piso não é um gasto. Ele é um investimento na saúde, no futuro da previdência e, acima de tudo, na justiça social.